No Dia de Atenção à Disfagia, profissionais alertam sobre distúrbio que pode impactar vida de crianças, adultos e idosos
Publicado em : 08/04/2018
Você sabe o que é disfagia? Pode até parecer um termo técnico, mas na verdade é algo muito mais comum do que se pode imaginar. A sabedoria popular diria que é a dificuldade de engolir. E é isso mesmo. Nas palavras da fonoaudióloga Juliana Cananéia, do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Neurociência (Nepneuro), mais detalhes deste distúrbio que, frise-se, não é uma doença: “A disfagia é um processo anormal do ato de deglutir (tanto saliva quanto alimentos), com sinais e sintomas específicos, podendo ser congênita ou adquirida. Prejuízos nos aspectos nutricional, de hidratação, no estado pulmonar ou no prazer alimentar e social são comuns entre os pacientes”, explica.
De acordo com Juliana, neste Dia de Atenção à Disfagia, lembrado em 20 de março, um dos objetivos dos profissionais é desmistificar este distúrbio como sendo somente grave. “É claro que no ambiente hospitalar a disfagia fica mais evidente, porque a pessoa pode ter tido um AVC (acidente vascular cerebral) ou TCE (traumatismo cranioencefálico), problemas neurológicos ou ainda alterações metabólicas que impactaram a dificuldade de deglutir. Entretanto, o principal desafio da equipe de reabilitação hoje é identificar os casos fora de hospitais, quando uma pessoa, por exemplo, começa a perder força na musculatura oral e, por isso, deixa de ter a convivência social na hora das refeições, ou quando uma criança sempre come um mesmo tipo de alimento”.
Em relação à essa última hipótese, a também fonoaudióloga do Nepneuro, Mirela Dela Líbera Duarte, complementa dizendo que a seletividade alimentar ocorre na infância em razão de alterações na parte sensorial da cavidade oral da criança. “Muitas vezes, os pais podem achar que é uma ‘frescura’ ou um comportamento de birra, mas é importante que um profissional capacitado investigue e entenda o ‘porquê’ dessa recusa do alimento. Pode ser uma dificuldade de mastigação, de aceitação da temperatura ou da textura do alimento, ou ainda por comprometimentos que estão associados a questões neurológicas ou comportamentais”, enfatiza.
A psicóloga e neuropsicóloga Fernanda Guedes destaca que é primordial o envolvimento de uma equipe interdisciplinar no tratamento de pessoas com disfagia. “O número de profissionais vai depender do grau do distúrbio, do tamanho do impacto que ele causa no dia a dia do paciente e também se está associado a alterações de cognição. É importante que o trabalho seja desenvolvido por um fonoaudiólogo capacitado, especializado em disfagia, junto com outros profissionais da área de Saúde, como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e neuropsicólogos”, lista.
Fernanda lembra que o papel do psicólogo é dar suporte emocional ao paciente, já que em muitos casos ele tende a se isolar socialmente e pode apresentar também um rebaixamento de humor (embora nem sempre isso configure-se em depressão), e também orientações aos familiares. “Já o neuropsicólogo trabalha para reabilitar as disfunções cognitivas que podem estar relacionadas a alguns casos de disfagia, como em pacientes com doenças neurológicas, como AVCs e TCEs, e doenças neurodegenerativas, como as demências”, complementa.
Sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoces, a opinião das três profissionais é unânime: “Uma intervenção precoce, principalmente nos casos de patologias neurodegenerativas, faz toda a diferença. Quando a reabilitação ocorre no início do quadro desse paciente, a gente consegue que ele mantenha as funções de mastigação e deglutição seguras, evitando riscos de complicações, pneumonias e internações”.
Saiba mais:
Atenção, alguma coisa pode estar errada se você responder SIM para 3 dessas 10 perguntas. Nesse caso, procure um fonoaudiólogo especialista em disfagia.
1. Meu problema para engolir me faz perder peso.
2. Meu problema para engolir não me deixa comer fora de casa.
3. Preciso fazer força para beber líquidos.
4. Preciso fazer força para engolir comida (sólidos).
5. Preciso fazer força para engolir remédios.
6. Dói para engolir.
7. Meu problema para engolir me tira o prazer de comer.
8. Fico com comida presa/entalada na garganta.
9. Eu tusso quando como.
10. Engolir me deixa estressado.
Fonte: Instrumento de Autoavaliação da Alimentação, EAT10.
Assessoria de Comunicação - Nepneuro
Jornalistas Carla Lacerda e Thiago Marques